A associação ambientalista Zero pede que todos os veículos novos vendidos em Portugal a partir de 2035 sejam 100% elétricos.
A associação Zero afirma que o cenário é realista, com os ecologistas a citarem um estudo da autoria da BloombergNEF feito para a Federação Europeia de Transportes e Ambiente (T&E)
Nessa projeção, os automóveis elétricos a bateria atingirão, entre 2025 e 2027, o mesmo preço que os modelos equivalentes a combustível fóssil, e não dependerão de incentivos para isso.
Na análise da T&E, organismo que a Zero integra, os ligeiros de mercadorias mais pequenos alcançarão a paridade de preço mais cedo, em 2025, e os ligeiros de passageiros em 2027, com os automóveis familiares de gama média e alta e os SUV a atingir a paridade em 2026.
Segmento | Ano em que será alcançada a paridade de preço (antes de impostos) entre EV e veículos a combustão |
Segmento B | 2027 |
Segmento C | 2026 |
Segmento D | 2026 |
SUV Segmento B | 2026 |
SUV Segmento C | 2026 |
SUV Segmento D | 2026 |
Comerciais ligeiros | 2025 |
Comerciais pesados | 2026 |
Fonte: Bloomberg NEF (2021) |
Em 2030, os veículos elétricos serão mesmo no preço base 18% mais baratos que os automóveis com motor de combustão.
Redução de preços torna cenário possível
Ainda olhando para esta mesma análise, a Zero declara que a descida de preço acontecerá por dois motivos:
► a queda no preço das baterias, que se espera ser de 60% ao longo da década – de 120 €/kWh em 2020 para cerca de 50 €/kWh em 2030. O valor de 100 dólares por kWh de capacidade de armazenamento, o equivalente a cerca de 80 €/kWh, considerado um ponto chave para a acessibilidade dos elétricos em termos de preço, será atingido em 2024;
► a mudança para plataformas de fabrico dedicadas a elétricos por parte dos construtores, permitindo produzir modelos elétricos com outras arquiteturas, o que proporcionará reduzir custos em 10-30% graças a fatores de escala, a processos de montagem mais simples, a packs de baterias e outros componentes padronizados, e à partilha do mesmo chassis entre modelos.
“As conclusões a que o estudo chegou são válidas em diversas circunstâncias e partindo de várias premissas, e por isso é seguro afirmar que dentro de entre quatro a seis anos os automóveis elétricos serão a opção mais barata para os condutores, tornando acessível a transição para a mobilidade elétrica”, refere a Zero.
No caso dos países do sul da Europa, o mercado de novos automóveis constituído inteiramente por 100% elétricos é possível em 2035
O estudo modelou ainda a viabilidade de alcançar 100% de elétricos puros nas vendas de novos automóveis não só em toda a Europa mas também em várias sub-regiões continente, como seja o norte da Europa, a Europa ocidental-central, a Europa de leste e a Europa do sul.
“Os resultados mostram que com um pacote de políticas públicas apropriado os automóveis a combustão podem ser totalmente retirados das vendas em todos os países entre 2030 e 2035. Para isso, ao nível da Europa, a quota de elétricos puros nas vendas totais tem de atingir os 22% em 2025, os 37% em 2027 e os 67% em 2030”, afirma a Zero.
Na perspetiva da Zero, assistir-se-á a uma aceleração acentuada nas vendas de elétricos a partir de 2025, à medida que a paridade for sendo atingida, mas a trajetória será diferente entre países.
“No caso dos países do norte, que inclui a Escandinávia, a Holanda e Islândia, o mercado 100% elétrico atinge-se logo em 2030; no caso dos países da Europa ocidental-central (incluindo a França, Alemanha e Reino Unido), isso acontece em 2034 – o que é compatível com o objetivo de o Reino Unido só vender elétricos a partir de 2030, incluindo plug-ins, e elétricos puros a partir de 2035”, sistematizam os ecologistas.
No caso dos países do sul, em que além de Portugal estão Espanha e Itália, a trajetória é paralela à dos países ocidentais-centrais, mas com um atraso de um ano, sendo possível o mercado ser inteiramente composto de elétricos em 2035.
E os veículos elétricos em Portugal?
Em relação ao leste da Europa (num conjunto de 12 países, incluindo a Polónia, a Grécia e a Roménia), o estudo refere que essas nações partem com atraso, pois são países em que o mercado de usados é preponderante, pelo que o grande crescimento de elétricos nas vendas só acontecerá a partir do final da década.
Nestes países, a estimativa é que os elétricos puros atinjam 44% das vendas em 2030, apesar de a paridade de preço ser alcançada vários anos antes. “Contudo, a partir dessa altura a implantação de elétricos far-se-á de forma rápida”, prevê a T&E.
Governo português deve colocar uma data limite, o mais tardar 2035, para o fim da comercialização de ligeiros de passageiros e de mercadorias com motor de combustão, dizem ecologistas
A Zero considera que ainda que o governo português deve colocar uma data limite, o mais tardar 2035, para o fim da comercialização de veículos ligeiros de passageiros e de mercadorias com motor de combustão, incluindo híbridos e híbridos plug-in – em linha com as recomendações da Agência Internacional da Energia, que diz que em 2035 isso tem de acontecer no mundo inteiro –, ficando prevista a possibilidade da sua antecipação conforme o desenvolvimento da mobilidade verde, nomeadamente a nível tecnológico, de preços e de infraestrutura de suporte.
Os ambientalistas fazem notar que as vendas de carros a empresas representam uma grande fatia do mercado de automóveis, sendo que estes carros percorrem cerca de 2,25 vezes mais quilómetros que os privados, poluindo proporcionalmente.
“No caso de frotas empresariais e frotas e urbanas, os automóveis 100% elétricos são já em muitos casos a opção mais custo-eficaz, tendo em conta o custo total de propriedade dos veículos, que inclui os custos de aquisição, de combustível, fiscais, manutenção e valor residual, o que quer dizer que, nestes casos, a total eletrificação poderá e deverá acontecer mais cedo, o mais tardar em 2030”.
Não obstante, sublinha a Zero, “os gestores de frotas empresariais continuam esmagadoramente a optar por veículos a combustão, comportamento que importa corrigir”.
Frota de veículos no Estado português
Para a Zero, “há ainda a notar que os automóveis empresariais são descomissionados cedo para o mercado de usados, o qual representa uma fatia importante do comércio automóvel, dentro do qual os automóveis elétricos podem ganhar uma desejável quota por esta via. Por isso, nas frotas de automóveis de empresas, incluindo as de leasing, e na frota de automóveis do Estado Português, faz sentido ficar estabelecido que deixa de ser permitida a inclusão de novos automóveis com motores de combustão a partir de 2030. Este objetivo deverá poder ser antecipado conforme a conjuntura”.
Pilares da mobilidade sustentável
A Zero recomenda ainda a instauração de zonas no interior das cidades, não apenas circunscritas aos centros históricos, com severas restrições à utilização do automóvel privado com emissões, em particular a gasóleo, e reforço geral, e nessas zonas em particular, do serviço de transporte público bem como do apoio a modos suaves de deslocação, pois estes sãos os verdadeiros pilares da mobilidade sustentável no futuro.