O grupo internacional Euroconsumers veio alertar para o problema da obsolescência programada de aparelhos eletrónicos, colocando em concreto a Apple na mira das suas denúncias por alegadamente manipular intencionalmente a lentidão dos iPhones 6, 6 Plus, 6S e 6S Plus.
Embora a Apple tenha argumentado tratar-se de uma atualização para prolongar a vida útil das baterias, o grupo que representa associações de consumidores denuncia a utilização de obsolescência programada para incentivar os clientes a comprarem novos telemóveis, nomeadamente, modelos mais recentes da marca. “Nos Estados Unidos a Apple acabou por confirmar o sucedido e compensou os clientes lesados”, indica a Euroconsumers.
A Euroconsumers é uma organização sem fins lucrativos formada por cinco organizações de Defesa do Consumidor : quatro europeias (em Portugal, Bélgica, Espanha e Itália) e uma no continente americano (Brasil).
Esta organização declara que “a par do prejuízo para consumidores, a utilização de obsolescência programada aumenta os níveis de desperdício eletrónico e surge como uma ameaça para o meio ambiente, numa altura em que a necessidade de uma economia sustentável e de uma transição verde justa é mais urgente do que nunca”.
Segundo a Euroconsumers, dos países que fazem parte da organização, Bélgica e Espanha vão avançar com uma ação judicial contra a Apple, aos quais se juntarão em 2021, Itália e Portugal, “acusando a marca de ter atualizado, silenciosamente, o software dos modelos do iPhone 6 sabendo, à partida, as alterações consequentes. Entre as anomalias causadas destacam-se a lentidão, perda de desempenho e shut down inesperado dos telemóveis”.
Tornar-se obsoleto mais depressa
O grupo afirma que a Apple procedeu à utilização de obsolescência programada nestes modelos, ou seja, à decisão propositada de desenvolver, fabricar, distribuir e vender este produto para consumo de forma que se tornasse obsoleto ou não funcional, especificamente para forçar o consumidor a comprar a nova geração de iPhones num curto espaço de tempo.
O movimento criado pelos consumidores americanos contra a Apple foi resolvido fora dos tribunais, tendo a marca concordado em pagar 113 milhões de dólares aos clientes insatisfeitos com o iPhone 6, 6 Plus, 6S e 6S Plus, resolvendo assim as acusações provenientes de 33 Estados.
Na Europa, a Euroconsumers diz que tentou inúmeras vezes chegar a acordo com a Apple procurando, por um lado, uma compensação semelhante para os proprietários destes modelos de iPhones e, por outro, a criação de telemóveis mais sustentáveis. “A falta de uma solução satisfatória leva agora o caso para os tribunais, com uma acusação contra a marca por práticas comerciais desleais, enganosas e agressivas na União Europeia. Em Portugal, a Deco também prepara uma ação para janeiro, tendo por base o mesmo enquadramento”, explica a Euroconsumers.
Num comunicado em resposta aos novos processos, a Apple nega as acusações: “Nunca fizemos – e nunca faríamos – nada para encurtar intencionalmente a vida útil de qualquer produto da Apple ou degradar a experiência do utilizador para impulsionar as atualizações do cliente”.