Apesar de Portugal ter aumentado o número de bandeiras azuis nesta época balnear, a associação Zero foi para o terreno efetuar uma avaliação dos resultados relativos à qualidade das águas balneares na presente época balnear disponibilizados para consulta no Sistema Nacional de Informação de Recursos Hídricos. Os ambientalistas compararam os registos com a situação verificada na época balnear passada de 2019 até à mesma data.

Segundo a Zero, das atuais 620 águas balneares, encontram-se algumas praias a revelar problemas, ainda que “de forma menos expressiva que na época balnear passada”.

Desaconselhamento afetou 25 praias

Segundo as contas da Zero, o desaconselhamento ou proibição de banhos, mesmo que durante um curto período de tempo, afetou 25 praias, menos 12 que em igual período do ano passado. “Em 22 praias, tal deveu-se a análises que ultrapassaram os limites fixados tecnicamente a nível nacional relativamente aos dois parâmetros microbiológicos que são avaliados (Escherichia coli e Enterococus intestinais)”, dizem os ecologistas que dizem que nas outras três praias não há informação publicada que permita justificar o desaconselhamento/proibição, “mas é provável que a razão seja idêntica”.

A Zero prossegue a análise, acrescentando que “três das 25 zonas balneares afetadas foram alvo de interdição – Praia da Nazaré na Nazaré, Sandomil em Seia e Ilhéu de Vila Franca do Campo em Vila Franca do Campo, na Ilha de São Miguel, Açores”.

15 praias interditas

“Para além do desaconselhamento/proibição de banhos associado a valores elevados das análises principais obrigatórias, o Delegado Regional de Saúde pode decidir a interdição de uma praia por estas ou outras razões de saúde pública. Do total de 15 praias até agora interditas, oito interiores e sete costeiras, tirando quatro casos em que as razões se prenderam com situações excecionais (presença de medusas nas praias de Carcavelos e São Pedro do Estoril em Cascais ou Magoito em Sintra ou ainda com um arrojamento de uma baleia na Praia Formosa em Santa Cruz, Torres Vedras), todos os outros, apesar de não haver uma justificação na informação prestada pela Agência Portuguesa do Ambiente, devem-se provavelmente à má qualidade da água, como foi por exemplo o caso da presença de Salmonella na Praia de Pego Fundo em Alcoutim”, aponta a Zero.

↘ Comparando as épocas balneares de 2020 e 2019, em ambos os casos até 15 de agosto, as praias afetadas por desaconselhamento ou proibição desceram de 30 para 25, isto é, em cerca de 2% relativamente ao total de zonas balneares (de 6,1% para 4,0%).
Em sentido inverso, verificou-se um aumento de 7 para 15 das águas balneares interditadas pelos Delegados Regionais de Saúde, sendo que em onze casos tal se deveu a problemas de qualidade da água.

 

Zero alerta para os piores casos

A Zero identificou como pior situação de contaminação entre as zonas balneares em funcionamento o caso do Ilhéu de Vila Franca do Campo, no concelho de Vila Franca do Campo, na Ilha de São Miguel nos Açores.

“A zona balnear tem, de acordo com a informação pública apresentada pela Agência Portuguesa do Ambiente, cinco análises que cujos valores conduziram a um desaconselhamento ou proibição de banhos e dois períodos de interdição. Têm sido apresentadas várias possibilidades para a origem da contaminação, desde a presença de gaivotas, contaminação proveniente de ribeiras ao eventual funcionamento inadequado de um emissário submarino”, avançam os ambientalistas.

De acordo com a Zero, a praia de Tábua, no concelho de Ribeira Brava na Ilha da Madeira é a segunda situação mais grave, com quatro análises acima dos valores que levam ao desaconselhamento/proibição de banhos, sendo que uma foi anterior ao início da época balnear. “Há casos como a Praia de Burgães – Rio Caima, interdita já por dois períodos onde, apesar de não estarem publicadas análises que apresentem contaminação microbiológica, a presença de descargas próximas e a poluição da água era notória”, salienta os ecologistas.

Rio Tejo pela primeira vez sem qualquer zona balnear

A análise da Zero permite ainda concluir que entre a fronteira com Espanha e o estuário em Lisboa, o rio Tejo não consegue ter qualidade da água suficiente para ter uma única zona balnear. “A última zona balnear no rio Tejo, a Quinta do Alamal no concelho do Gavião, foi a única praia a ser reportada junto da Agência Europeia do Ambiente com qualidade da água má em 2019 e não está em funcionamento este ano. Tal já tinha acontecido há alguns anos com a praia da Ponta dos Corvos no Seixal que também foi desclassificada como zona balnear”, apontam os ambientalistas.

A Zero entende que têm sido efetuados esforços consideráveis para a melhoria da qualidade da água do rio Tejo, mas considera que “um dos melhores indicadores de sucesso é termos águas balneares no troço principal do rio Tejo e no estuário do Tejo e há várias candidatas em concelhos como Gavião, Alcochete, Barreiro, Seixal e Vila Franca de Xira”.

“É importante investigar e acima de tudo prevenir contaminação”, dizem ecologistas

Da análise dos dados efetuada pela Zero, os ambietalistas consideram que é importante refletir sobre vários aspetos:

  • Houve muitas praias interditas por parte dos Delegados Regionais de Saúde no interior, locais mais suscetíveis a descargas ou falta de tratamento de águas residuais, que requerem medidas adequadas de controlo;
  • Muitas das zonas balneares que sofreram um desaconselhamento ou interdição durante a presente época balnear têm classificação Excelente, devendo portanto tratar-se de episódios esporádicos que, no contexto da legislação, até podem não pôr em causa a sua qualidade, mas que devem ter as suas causas devidamente averiguadas.

“Em cada um dos casos é fundamental identificar a origem dos problemas e averiguar responsabilidades, desempenhando a Agência Portuguesa do Ambiente e a Inspeção Geral da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território um papel decisivo”, defende a Zero.

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