Orlando Ferreira é um entusiasta de automóveis desde a infância. Aliás, mais do que um vulgar apaixonado, é um Alfista, um incondicional da Alfa Romeo.

A marca italiana é, desde praticamente a sua fundação, em 1910, um nome maior da indústria ao serviço do movimento em quatro rodas. Na estrada ou no desporto, a Alfa Romeo foi, durante várias décadas, a referência de tecnologia avançada e elevadas prestações. Recentemente, com o Giulia Quadrifoglio, estabeleceu o novo padrão pelo qual as restantes berlinas desportivas são aferidas. Em Portugal, são muitos os fãs da marca, que apreciam os motores sonoros, a estética arrojada e a adrenalina de domar um puro-sangue. No topo do ativismo na defesa da marca no nosso país, Orlando Ferreira é uma das referências, pelo conhecimento, paixão, simpatia e… diplomacia.

Ao longo de algumas décadas passaram pela sua garagem vários Alfa Romeo, culminando na dupla de ases atual: um GTV6 de 1984 e um moderno Giulia Quadrifoglio.

A sua garagem está repleta de Alfamobilia, com recordações de eventos alusivos à Alfa Romeo e até uma foto assinada pelo Riccardo Patrese.

Desafio aceite

Quando convidámos o Orlando a experimentar um mundo diferente, não houve qualquer hesitação: “Vamos a isso”. Para este engenheiro informático de 49 anos, a tecnologia é uma companheira diária e a mobilidade elétrica é uma realidade do presente. “Mas é o primeiro elétrico que vou conduzir…”, disse do outro lado da chamada telefónica. 

O elétrico que escolhemos também não foi por acaso. Dadas as suas características, o Model 3 Performance tem tudo para causar uma boa primeira impressão. 

Para além das aptidões comuns a todos os elétricos — como a facilidade de utilização e a ausência de ruído — este modelo tem tração integral e uma potência combinada dos dois motores de 340 kW (462 cv) e 639 Nm de binário. Valores que comparam bem com as melhores berlinas desportivas com motor a combustão no mercado.

A aceleração dos 0-100 km/h em 3,4 segundos e a velocidade máxima de 261 km/h são também excelentes referências.

Relativamente à perceção que tem da Tesla, o Orlando refere:“Para o público em geral, neste momento, um automóvel desta marca é um objeto de desejo. As pessoas gostam da sua estética e do facto de ser um elétrico. Já o petrolhead, pode ter alguma resistência psicológica, que se compreende. Acho que é normal que sintam mais falta do barulho do que propriamente desinteresse pelo tipo de motorização e desempenho.”

Só a começar

Depois de tirarmos a foto de abertura, com os dois Alfa Romeo, chegou o momento do Orlando, vestido com um belo blusão da casa de Arese, ocupar o lugar do condutor. O nosso piloto de testes está compenetrado.

“Mal dormi com a ansiedade e não li nenhum artigo sobre o Tesla, para não criar expectativas”. 

Mostro como se regula o volante — combinando o ecrã tátil e o botão do lado esquerdo do volante. A seguir, os espelhos: “Isto é muito mais prático do que nos outros automóveis, que têm os botões no apoio de braço da porta”. Pois é, Orlando e ainda estamos só a começar…

Após uma rápida explicação ao comando do seletor de movimento — o Tesla tem apenas uma relação para a frente e outra para trás — arrancamos, em modo Chill (como o nome indica, o mais tranquilo), a direção em Standard e a travagem regenerativa em Low. É a especificação mais acessível para um rookie da mobilidade elétrica. Por acaso o modo de baixa velocidade estava em Hold e ficou. O Roll teria talvez sido o mais parecido com o de um ICE.

Tecnologia de ponta

A impressão inicial é tranquilizadora: “À partida, tirando a ausência de som do motor, conduz-se como um automóvel normal. Não há qualquer dificuldade para quem está habituado a conduzir um modelo com motor de combustão, como é o meu caso”. O seu Giulia Quadrifoglio é uma rara unidade com caixa de velocidades manual, mas a adaptação aos dois pedais do Tesla foi instantânea. 

Depois de chegarmos à autostrada, passamos para o modo Sport, no desempenho dos motores e na direção. Após a portagem, a primeira aceleração a fundo. Costas coladas ao banco, enquanto o Tesla ganha velocidade às dezenas de quilómetros em poucos segundos. “Bem, é muito rápido. Parece tão rápido quanto a Giulia” — os Alfistas referem-se aos seus automóveis no feminino… —, “mas sem o drama!” (risos) “Drama, no bom sentido, claro.”

Travões um pouco diferentes

Depois do percurso em autoestrada, testam-se os travões. “É preciso fazer bastante força e a sensação é um pouco diferente daquela a que estou habituado.” Em parte, tal deve-se à capacidade de regeneração na travagem, comum a vários elétricos e até a alguns híbridos com essa função. O Model 3 Performance é até dos mais mais competentes a sublimar este fenómeno, que parece interferir com a modularidade da travagem, tornando-a um pouco menos precisa em condução desportiva. “A única coisa que eu considero que talvez possa melhorar é o feeling do pedal de travão. É muito potente, mas requer mais força do que aquilo que eu estava a espera para começar a travar.”

De curva em curva

O resto do teste do Orlando foi realizado em modo Sport, no desempenho e na direção. “Nota-se que a resposta ao volante é mais precisa. A sensação de aceleração é impressionante. O facto de me parecer perfeitamente a par daquilo que faz a minha Giulia, com 510 cavalos e 1500 quilos de peso é surpreendente. Não estava à espera. Sobretudo, porque é feito com muito menos esforço.” 

“O Tesla faz uma transição muito linear nas curvas. Parece mesmo que vai sobre carris”, diz o Orlando, enquanto saímos disparados de uma curva para a outra. O Performance otimiza a tração de cada uma das rodas, minimizando as perdas de aderência, que são sempre mínimas. Em certos momentos, a traseira roda um pouco, para ajustar o posicionamento do Tesla na curva.

Plug and play

“Neste carro, parece tudo muito fácil. Acima de tudo, na primeira impressão, é um carro normal, movido por dois motores, descrito de uma forma pouco emotiva. Até o nome: Tesla Model 3 “dois motores longo alcance”, uma abordagem keep it simple. Gosto muito da direção, tem aquele feeling muito directo, que os Alfa Romeo também possuem.”

“Mas, apesar de me parecer um automóvel normal, não faz barulho, tem uma grande potência e uma entrega de binário instantânea. O que, para minha surpresa, não carece de um período de adaptação. É entrar e andar.”

“Não é preciso uma semana para nos habituarmos à sua condução. Saímos de casa e já estamos habituados.”

O Orlando acha ainda que o Tesla é robusto: “passámos por uma zona de piso bastante mau e a suspensão absorveu muito bem as irregularidades.”

A maior surpresa estava reservada para o final. A média do nosso “passeio” foi 35,5 kWh/100 km, o que equivale a um custo de cerca de cinco euros. “O mesmo passeio alegre no meu Alfa Romeo Giulia Quadrifoglio custaria cerca de 25/30 euros de gasolina…”

É o futuro

Após este breve ensaio, o Orlando não tem dúvidas: “Parece-me que, neste momento, para  utilizar no dia a dia, os elétricos não têm rival. E se calhar já não vão ter. Depois há um modelo como este, que a isso acrescenta a capacidade de ter prestações realmente desportivas. E tem um comportamento fora de série. Estas duas últimas curvas, não sei se as fazia no Giulia a esta velocidade…” 

Quanto à sua marca preferida e à transição energética que opera na indústria, Orlando afirma: “No meu mundo automóvel ideal, vivia com um automóvel desportivo com motor a gasolina e este carro! Um Alfa Romeo elétrico com este tipo de performances, ou até abaixo, para andar todos os dias.”

“Quando a minha marca do coração, a Alfa Romeo, tiver um automóvel 100% elétrico, provavelmente serei dos primeiros a comprar. Após esta experiência, não tenho dúvidas disso…” Com as notícias de que a Alfa Romeo está a preparar o seu primeiro elétrico, é provável que já não falte muito para este petrolhead se converter à mobilidade elétrica…

 

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