No dia em que Portugal assinala o seu feriado nacional, 10 de junho, o retrato ao país em termos da taxa de reciclagem de embalagens de plástico tem um lado negativo e do qual pouco se fala.
Para o encontrarmos é preciso ir vasculhar no lixo. Isto porque é para lá que os portugueses deitaram 478 mil toneladas de plástico, em 2018.
Feitas as contas, as embalagens de plástico correspondem a 9,2% do peso dos resíduos urbanos.
o volume de embalagens plásticas deitadas para o lixo indiferenciado é de 478 mil toneladas.
Os dados são um alerta da associação ambientalista Zero, resultando de elementos fornecidos pela própria Agência Portuguesa do Ambiente (APA).
Numa carta enviada à Zero e da qual foi dado conhecimento ao Ministro do Ambiente, a APA confirma a existência de muito mais embalagens de plástico nos resíduos urbanos (as mencionadas 478 mil toneladas) do que as que foram referidas pelo Ministro João Pedro Matos Fernandes (163 mil toneladas) e que sugeriam que as embalagens de plástico eram apenas 3% dos resíduos das nossas casas.
Os dados reais mostram, portanto, valores bem superiores.
Analisando a composição dos resíduos urbanos fornecida pela APA, verifica-se que as embalagens de plástico correspondem a 9,2% do peso desses resíduos, o que significa que são 478 mil toneladas, tendo em conta que a produção nacional de resíduos urbanos em 2018 foi de 5,2 milhões de toneladas.

Mas há ainda mais.
A Zero indica também que Portugal tem uma fraca percentagem de reciclagem deste tipo de plásticos que existem nos resíduos urbanos, vulgo o comum lixo.
No início deste ano, a Zero já vinha apontando para um valor de reciclagem de 12% de plásticos nos resíduos urbanos. Agora, cruzando indicadores da Agência Portuguesa do Ambiente (APA) e da Sociedade Ponto Verde (SPV), a conclusão é ajustada apenas ligeiramente (de 12% para 15%), mantendo-se, portanto, a sua essência.
só 15% das embalagens de plástico nos resíduos urbanos são recicladas
Com efeito, a Sociedade Ponto Verde indica que somente 72 mil toneladas foram recicladas (das 478 mil toneladas de embalagens de plástico que vão parar ao lixo), o que corresponde a uma reduzida taxa de reciclagem de 15%.
Estudo para conhecer realidade
“Felizmente, talvez por reconhecer existirem fortes dúvidas sobre os dados que têm sido divulgados ao longo dos anos pelos diversos responsáveis do Ministério do Ambiente sobre a reciclagem de embalagens dos resíduos urbanos, a atual Secretária de Estado do Ambiente emitiu, em conjunto com o Secretário de Estado da Economia, um despacho [Despacho nº 5615/2020, n.d.r.] em que dá um prazo até setembro para as Entidades Gestoras das Embalagens efetuarem um estudo aprofundado sobre a quantidade de embalagens existentes nos resíduos urbanos. Esperando a Zero que este estudo possa ser acompanhado por entidades independentes”, declaram os ambientalistas.
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O Ministério do Ambiente reconhece, ainda em reação à posição da Zero, que os problemas relacionados com “a dificuldade quanto ao cálculo da quantidade de plástico nos resíduos urbanos, o facto do peso do plástico que inclui o peso dos contaminantes presentes ou o facto de que nem todos os embaladores declaram efetivamente as quantidades de embalagens colocadas no mercado” se mantêm.
“É por esta razão que o Ministério do Ambiente e da Ação Climática tem vindo a trabalhar em várias frentes. A mais recente é a elaboração de um estudo com vista a caracterização das embalagens para que o universo seja bem conhecido e, a partir dessa base, se possa então corrigir o que tiver de ser corrigido; ao nível dos contaminantes, e de conhecer o seu real impacte no peso dos resíduos está previsto no PERSU2020+ a realização de um estudo com vista à sua caracterização e em simultâneo e em parceria com o Ministério da Economia e da Transição Digital no sentido de os produtores cumprirem com a sua obrigação legal de declaração, num combate aos free-riders”, diz o Governo.