Ainda a propósito do Dia Internacional da Reciclagem, que se assinalou ontem, dia 17 de maio, e face à crise económica e social que se avizinha, a associação Zero fez uma avaliação do potencial da reciclagem na criação de postos de trabalho, tendo enviado ao Ministério do Ambiente e da Ação Climática uma proposta com medidas que permitirão, nos próximos anos, a criação no mínimo de mais de 5 mil postos de trabalho diretos e permanentes neste setor.

Segundo os ambientalistas, entre as atividades de reciclagem que mais podem ajudar a atingir este objetivo constam as seguintes:

 a recolha seletiva e triagem de resíduos urbanos com cerca de 2500 empregos;

 o tratamento biológico de resíduos urbanos com 1000;

 a reciclagem de resíduos de construção e demolição (RCD) com 500;

 a recolha e reciclagem de resíduos de equipamentos elétricos e eletrónicos (REEE) com 700;

 a indústria de reciclagem de plástico com 400;

 a recolha seletiva e reciclagem de resíduos de comércio e serviços com 300;

 e a reciclagem das lamas das ETAR domésticas com 100.

Estes cálculos foram feitos com base no pressuposto de que Portugal irá cumprir as metas de reciclagem comunitárias para vários fluxos de resíduos e que, simultaneamente, a legislação existente para este setor passará a ser cumprida.

Para calcular o potencial de postos de trabalho a criar, a Zero contactou diversas empresas e entidades ligadas à recolha e tratamento de resíduos e avaliou a quantidade de resíduos que poderiam ser reciclados por cada fluxo de resíduos.

Potencial existente

Assim, para os resíduos urbanos, partindo de uma taxa de reciclagem atual de 21,3% e para atingir a meta comunitária de 55% em 2025, conclui-se que Portugal tem de reciclar mais 1,8 milhões de toneladas, das quais cerca de 800 mil serão de recicláveis como plástico, vidro, papel e metais e 1 milhão serão resíduos orgânicos, tendo-se estimado que será necessário criar cerca de 3500 postos de trabalho para se atingir esse objetivo.

No caso dos resíduos de construção e demolição (RCD), estima-se que em Portugal se produzem anualmente cerca de 5 milhões de toneladas deste fluxo de resíduos, dos quais apenas se reciclam 5%, ou seja, existe um potencial de reciclagem de 4,9 milhões de toneladas, sendo que a reciclagem de, pelo menos, metade desses resíduos pode originar  a criação de cerca de 500 empregos.

Para os resíduos de equipamentos elétricos e eletrónicos (REEE), os dados disponíveis para 2019 (concursos lançados pelas entidades gestoras deste fluxo) indicam que no máximo foram recolhidas e recicladas cerca de 50 mil toneladas, quando a meta comunitária era de 105 mil, pelo que faltam 55 mil toneladas que, se passarem a ser devidamente tratadas, podem vir a criar 700 novos postos de trabalho.

No caso dos plásticos, a produção deste resíduo com origem doméstica é de cerca de 600 mil toneladas por ano, sendo que atualmente só se reciclam 72 mil toneladas, o quer dizer que até 2025 têm de ser recicladas mais 258 mil para se cumprir a meta dos 55% de reciclagem, o que implicará a criação de mais 400 novos empregos.

Para os resíduos com origem no comércio e serviços, considerados equiparados a urbanos, mas que pelas quantidades não são recolhidos pelas autarquias, mas sim por empresas privadas e têm por destino essencialmente a incineração ou o aterro, estimou-se uma produção de 300 mil toneladas por ano, pelo que a reciclagem de 55% desses resíduos permitirá criar cerca de 300 postos de trabalhos afetos à recolha seletiva, triagem de recicláveis e tratamento da fração de resíduos orgânicos.

Finalmente, no caso das lamas de ETAR, foram identificadas pelo menos 150 mil toneladas que não estão a ter um tratamento adequado, pelo que o encaminhamento desses resíduos e o seu tratamento em unidades de compostagem pode originar cerca de 100 novos empregos.

Conclui a Zero que existe um potencial de criação de 5500 postos de trabalho através da reciclagem, isto sem contar com vários fluxos de resíduos recicláveis para os quais não foi ainda possível fazer uma avaliação desse potencial.

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