A Infraestruturas de Portugal (IP) em parceria com a Universidade de Évora, desenvolveu uma aplicação móvel para registo de atropelamentos de animais nas estradas à sua guarda, no âmbito do programa LIFE LINES – Rede de Infraestruturas Lineares com Soluções Ecológicas.

A particularidade é que são os próprios cidadãos a serem convidados a comunicar os locais em que viram um animal morto na estrada.

A intenção é que com a contribuição dos próprios condutores haja um mais completo mapeamento de animais atropelados. Esse levantamento permitirá que as brigadas da IP mais rapidamente cheguem ao local para removerem o animal, além de possibilitar identificar zonas mais críticas e de maior incidência de atropelamentos de animais. Para esses “pontos negros” para a fauna serão tomadas medidas para minimizar este fenómeno que dizima milhares de animais de diversas espécies, todos os anos.

A app está disponível gratuitamente para dispositivos Android.

O Welectric esteve na apresentação desta aplicação, com o responsável da direção de engenharia da IP a sublinhar que esta “não é uma simples app, nem mesmo mais uma app”. José Faísca refere que “a app permite obter dados importantes para reduzir a mortalidade de espécies que atravessam as nossas infraestruturas”.

A app pode ser descarregada aqui.

Graça Garcia, bióloga da Direção de Engenharia e Ambiente da Infraestruturas de Portugal e Gestora do Projeto LIFE LINES na IP, declara que a app agora criada vem ao encontro de um conjunto de medidas que a IP já vem tomando, com vista “a mitigar os efeitos negativos da infraestrutura em várias espécies de fauna” com a finalidade de “criação de uma infraestrutura verde de suporte ao incremento e conservação da biodiversidade do território”.

Entre essas medidas já testadas e existentes nalgumas vias, designadamente no Alentejo Central, encontram-se:

  • barreiras de rede e barreiras de vegetação arbustiva para forçar as corujas a voarem mais alto, levando a que já não colidam com os veículos;
  • refletores específicos para refletirem a luz dos faróis na direção das áreas exteriores à via e, deste modo, alertar as aves;
  • adaptação de passagens hidráulicas e vedações para encaminhamento dos animais terrestres;
  • barreiras para encaminhamento de anfíbios para passagens hidráulicas, evitando que atravessem a estrada;
  • sinal rodoviário especifico para anfíbios que avisa os condutores que estão num troço com grande risco de atropelamento de anfíbios.

“São medidas de baixo custo e que podem ser replicadas em mais locais”, aponta a IP e a Universidade de Évora.

A Infraestruturas de Portugal gere uma rede de estradas com cerca de 14 mil quilómetros.

António Mira, docente do Departamento de Biologia e coordenador do projeto LIFE LINES do lado da Universidade de Évora, explica que as espécies animais mais vitimadas por colisões com viaturas abrangem tanto mamíferos, aves, anfíbios como répteis. “É transversal a todas as espécies”, afirma António Mira.

O trabalho de campo que a Universidade de Évora tem feito de 2005 a 2019, com base em 81.172 registo de atropelamentos de animais, permitiu concluir que 36% desses atropelamentos vitimaram mamíferos, 32,4% atingiram aves, 25,8% incidiram em anfíbios e os restantes 5,8% tiveram como alvo répteis.

Base de dados de atropelamentos de animais: 81.172 registados desde 2005 a 2019

Alguns dos animais mais afetados são corujas, raposas, texugos, ginetas e diversos tipos de anfíbios (como sapos e salamandras).

“Animais de pequenas dimensões são bastante afetados por atropelamentos, passando despercebidos”, elucida o especialista universitário.

Sabia que…
… as cobras vão para as estradas para se aquecer?

“Pode perguntar-se porque estamos a gastar dinheiro a querer salvar cobras, sapos ou outros animais”, deixam no ar António Mira e Graça Garcia.

Insegurança rodoviária

“Além das preocupações com a biodiversidade e a consciência de que estas espécies têm uma grande importância no controlo de pragas, é preciso não esquecer que um incidente entre um animal e um veículo é um fator de insegurança rodoviária”, aponta a IP e a Universidade de Évora.

Foto: Luís Guilherme Sousa

O projeto LIFE LINES é cofinanciado pelo Programa europeu LIFE que apoia projetos de conservação ambiental e da natureza. O projeto tem vindo a decorrer, em jeito de piloto, na região do Alentejo Central, com o objetivo de ensaiar e avaliar medidas para minimizar os efeitos negativos das infraestruturas na fauna.

“Estas ações visam também aumentar os níveis de segurança rodoviária, uma vez que reduzem a interação entre os animais e os utilizadores das vias”, salienta Graça Garcia.

De acordo com António Mira, a altura do ano mais fataídica é o outono, verificando-se, por vezes, atropelamentos em massa, caso de sapos que atravessam em grupo estradas. E quando isso ocorre, cria-se no asfalto uma película escorregadia que favorece os despistes dos automóveis.

Como funciona a app?

A aplicação está disponível no Google Play, para dispositivos móveis Android, pressupondo um registo. Para já, os iPhone ficam de fora.

A app permite submeter/consultar eventos de mortalidade de animais, associando informação relativa a diversos parâmetros (espécie, sexo, idade, estado e coordenadas de GPS). Ao relatar-se um animal morto na via é possível anexar até 2 fotos.

O utilizador da app pode inserir as ocorrências que observar, identificando – se souber ou conseguir – o animal em causa.

As observações podem ser feitas tanto em modo online, como em modo offline (neste caso terão de ser submetidas quando houver conetividade).

Os dados registados são integrados na base de dados de mortalidade de animais, desenvolvida no âmbito do Projeto LIFE LINES, sendo posteriormente validados por especialistas.

Além da IP e da Universidade de Évora, também colaboraram neste projeto as câmaras municipais de Montemor-o-Novo e de Évora, as universidades de Aveiro e do Porto, a Quercus e a ONG Marca – Associação de desenvolvimento Local.

“Queremos envolver os cidadãos, mas é importante garantir a segurança rodoviária. Se alguém avistar um animal morto na via, pode relatar o incidente, mas só deve parar em segurança. Se não for possível parar o carro para fotografar e remeter para a app, não o deve fazer”, alerta Graça Garcia que esclarece que existe sempre a possibilidade de telefonar para a linha da IP que funciona 24 horas por dia/sete dias por semana, o 707 500 501.

O projeto prevê uma posterior integração da informação recolhida numa base de dados europeia que visa a preservação da biodiversidade a uma escala maior, ao nível das infraestruturas. Nessa altura, também a app poderá vir a alargar-se aos iPhones (loja App Store).

Artigo anteriorFundação cria “Prémio Calouste Gulbenkian para a Humanidade”
Próximo artigoCrocodilo da Lacoste foi substituído pelo Lince Ibérico